Parte 2 – Impressões Finais da Temporada Spring 2023:
Majutsushi Orphen Hagure Tabi: Seiiki-hen — Uma visão do céu com uma jornada para o inferno. Resume bem uma obra com extremo potencial, maravilhosas ideias, mas tudo desperdiçado por um ritmo errado e por uma baixa produção.
Essa é a quarta temporada, o anime fechou a trama principal e somando com o episódio especial dão um total de 49 episódios. Eu não li a novel, mas sei que são 200 capítulos. Logo, acredito que devam ter adaptado tudo e que não deverá ter uma quinta temporada. Até porque fui informado por terceiros que o anime adaptou tudo o que foi escrito na novel.
Talvez a trama já fosse gigantesca para essa quantidade de capítulos da novel e o anime só tenha replicado o problema com uma quantidade insuficiente de episódios. Também não sei se foi cortado algo da novel, mas independente disso o principal problema desse anime é que tudo parece absurdamente comprimido. Logo, fica difícil de se envolver com alguns personagens, de entender o enredo, e de aceitar como se fossem naturais as reviravoltas. Sei que isso havia nas outras temporadas, mas nessa última a impressão é de como se tivessem colocado um conteúdo bem maior do que os das três outras anteriores juntas em uma só.
Tudo é extremamente rápido e fica maçante de acompanhar. Em um episódio é apresentado um personagem carismático, para no seguinte ele já morrer. Em um episódio começa um arco, para no outro acabar. Por conta disso o propósito de muita coisa parece sem sentido e as resoluções são mal explicadas. Pelo menos nas outras temporadas, mesmo com os poucos recursos, as cenas com lutas não pareciam aceleradas. Já nessa se alguém piscar os olhos perde tudo. O pior que é a temporada do conflito épico, do ápice da obra, e o anime simplesmente pula a batalha decisiva sem mostrar nada. Entendo que a obra foi desacreditada, que a produção é de baixo orçamento, mas é o final. Mesmo que não fosse mostrado no mangá, posto que o anime não tinha entregado nada de especial antes, precisava exibir algo grandioso e recompensador no epílogo.
Alguém pode acreditar que com todos os problemas que existem nesse anime eu deva o odiar, mas definitivamente não consigo, porque é apresentada uma enorme quantidade de excelentes ideias. O anime até começa a desenvolver bem algumas delas, o problema é que só começa e já pula para outra ideia maravilhosa que novamente terá o mesmo destino. Portanto, tenho uma sensação mista. Por um lado, fico extremamente feliz que tenham adaptado essa obra para anime e adoraria recomendá-la. Por outro lado, literalmente fico com os olhos cheios de água e o coração apertadíssimo por ver que algo com tamanho potencial não tenha recebido uma adaptação à altura. Além disso, por mais que não seja uma ótima adaptação é apenas mediana, e quando penso nos lixos que sai toda temporada, o meu humor melhora.
Isekai de Cheat Skill wo Te ni Shita Ore wa, Genjitsu Sekai wo mo Musou Suru: Level Up wa Jinsei wo Kaeta — Os desenhos de personagens são lindos, o anime tem boa ação, agrada um protagonista forte que era fraco, as garotas são cada uma melhor que a outra, mas tem uma droga de roteiro. Resumindo, a trama é exaltação de protagonismo.
O anime foi vendido como diferente por manter uma trama em outro mundo ao mesmo tempo que mantinha outra trama com o mesmo personagem no mundo real. A primeira impressão é que apenas a parte isekai seria vergonhosa, mas à medida que o protagonista vai ficando mais forte as aberrações vão escalonando no mundo real, de tal modo que esse acaba parecendo mais ordinário do que o mundo isekai. Todo o tempo o anime fica jogando coisas extremamente artificiais com intuito bem claro de exaltação ao protagonista, coisas que nos tiram da imersão. Não parece que o autor teve o mínimo de preocupação em criar nexos narrativos que fizessem a trama parecer verossímil e coerente.
Tem uma ou outra coisinha que talvez possa se salvar na história: uma ou outra lição de moral, um pouco de romance, um pouco de empatia, e o carisma das personagens femininas. Geralmente o que acerta é o básico dos animes, diria mais, é o básico de qualquer história de fantasia. Muito disso também é por não sair das fórmulas consagradas de sucesso. Tipo: um herói que salva uma linda princesa indefesa; os colegas invejosos que fazem bullying; um personagem muito fraco que se fortalece. O pior é que tinha uma parte super pesada da história do protagonista, que tanto no anime como no mangá é passada de uma forma tão rápida, mais tão rápida que rompe a velocidade da luz, portanto a maioria das pessoas não percebe.
A verdade é que só fui dar mesmo uma chance para esse anime porque ele também foi vendido como o anime do protagonista que pegava geral, que as coisas evoluíam muitíssimo no romance e que as garotas eram 10/10. No entanto, a verdade é que o protagonista até o fim dessa temporada não pega ninguém, são apenas garotas muito legais se atirando. Pelo menos os desenhos são bonitos e algumas cenas de ação são legais.
Kaminaki Sekai no Kamisama Katsudou — Inova, tem reviravoltas, mas se equívoca com elementos genéricos e com alterações que são vergonha alheia. Essa proposta também é delicadíssima e às vezes o anime quebra ovos. No mais, na parte visual a produção é baixa.
O que mais salta aos olhos é a animação em computação gráfica, principalmente quando aparecem os monstros 3D, pois é muito destoante e espanta o público. A rotoscopia também é presente em algumas partes e causa estranheza. Com certeza sempre que alguém lembrar desse anime, recordará dessas cenas. Claro que com uma animação minimamente de qualidade não traria essa impressão tão ruim e com uma de ponta teria um efeito positivo. Entretanto, não mudaria muito do anime porque não são tantas as cenas com essas coisas. Portanto, utilizar uma animação tão fraca para algumas cenas só pode ser fruto de baixíssimo orçamento, tendo em vista que a própria proposta da obra não necessita de muitas cenas fluidas.
Naturalmente existe uma boa vontade de todo mundo ser bem mais tolerante com obras japonesas quando estas tocam em questões religiosas, em prol de uma liberdade poética e uma compreensão de que o Japão não é um país dado a religião. No entanto, um anime cujo foco principal da trama é falar da religião e fazer críticas de maneira direta e explícita, difere de usar alguns elementos de crenças religiosas, ou de fazer críticas veladas e pontuais. Nesse sentido posso dizer que é uma proposta que inova e por mais que o anime tente ser cuidadoso para não ser tão ofensivo às vezes desliza. Basicamente a visão do anime é que a religião é um tipo de: sacrifício, de escambo, de governo, de prazer sexual, de música e de família alienada.
O principal acerto nessa obra são as reviravoltas, as quais de fato conseguem surpreender muito, mudando conceitos que já estavam formados ainda na premissa. Tudo nesse sentido é feito de uma forma coerente, que pareça natural e instigante. Isso faz valer muito a pena assistir à obra. Entretanto, também existem coisas não tão interessantes por serem genéricas, como os traços, os arquétipos, os cenários, as idols e o fanservice.
Li alguns capítulos do mangá e comparando com o anime não muda muita coisa, mas não é uma adaptação 100% fiel e as mudanças que verifiquei foram todas para pior. Uma das cenas que mais detestei que mudaram foi uma que envolve a Bertrand. No anime a colocam vestida como se fosse uma sambista de carnaval, isso foi tosco, foi vergonhoso e incoerente. Em outras palavras, o anime não tem um bom diretor.
"Oshi no Ko" — Relutei em assistir e iniciei acreditando que não valeria nada, mas terminei a temporada tendo a certeza que foi uma das melhores obras já criadas pela humanidade. Garanto fortes emoções e aulas de como fazer um bom anime.
Esta é uma das críticas mais difíceis que já escrevi. Posto que, é fácil e bom falar dos erros, o difícil é comunicar dos acertos e fazer isso de um anime quase perfeito é um desafio. Portanto, vou focar naquilo que considero os pontos mais fortes desse anime, que o fazem ser tão amado e reconhecido, que é justamente conseguir passar muita emoção e ter conteúdo.
A maioria dos críticos procura não falar sobre emoções, porque é algo tido como subjetivo e por estigmas da sociedade, mas a verdade é que isso é a alma dessa indústria. O que faz alguém ofertar a coisa mais valiosa que o ser humano possui que é o tempo? Sobre tudo é nisso que se baseia o entretenimento. Não interessa uma alta complexidade, algo mirabolante, algo inovador, algo extremamente realista. Absolutamente ter todas essas coisas nada significa se não conseguirem passar emoção, pois é esse o intuito dos realizadores e aquilo que o público almeja. Assim como valores críticos, artísticos e culturais, são secundários, muitas vezes temporais e apesar de não serem rotulados assim tem graus de subjetividades maiores do que o das coisas que transmitem emoções.
Uma das marcas registradas dessa obra, é que em todos os episódios, ou quase todos, fecham com um ápice, deixando um suspense que cativa o interesse pela continuação. Alguns dirão que essa técnica do gancho é velha e isso é verdade, mas funciona e poucas obras conseguiram executar tão bem em tantos episódios como nessa. Também é algo que por deixar de ser tão usual e acertado nos animes até parece inovador. Obviamente foi um ótimo trabalho do diretor de composição de série que soube dividir bem o material dos episódios. Não só desse diretor de composição, mas da equipe toda, pois eu li o mangá e essas cenas não teriam o mesmo peso sem a escolha certa das músicas, dos enquadramentos, do ritmo, das cores, das sombras e da incrementação de mais quadros.
A arte animada possibilita sensações sensoriais maiores, logo detém de mais possibilidades de provocar emoções. Entretanto, conheci a trama antes de ver a maioria dos episódios e a história é viciante por si mesma. Por mais que a equipe do anime tenha muitos méritos e grandes feitos, preciso reconhecer que o autor do material original e a desenhista do mangá tiveram a maior contribuição.
Os personagens dessa história nos fazem ter empatia por eles, a ponto de termos os seus desejos, suas ansiedades, suas raivas e suas tristezas. Uma das maiores marcas para sabermos se os personagens são bons é quando a obra consegue nos colocar neles e sentirmos com eles. Esses personagens também tem arcos completos, mas são bons essencialmente porque nos comovem.
As cenas mais impactantes em ordem são:
Todas as cenas da parte final do 1.º episódio são espetaculares e é o que vende mais a obra. Só preciso comentar que faltou uma coisinha que tem no mangá durante a morte de uma personagem e que se tivesse sido mostrado no anime evitaria algumas críticas bobas.
A cena do final do 7.º episódio, sem exagero algum, a assisti novamente pelo menos uma centena de vezes de tão boa e tão emocionante que ficou. Interessante que não é tão diferente no mangá, mas o pouco que mudaram a melhoram tremendamente. Fizeram que uma cena simples ficasse grandiosíssima com apenas um movimento de câmeras, sombras e uma acertadíssima trilha sonora. Pode não ser a mais impactante, porém é a minha favorita. Depois dessa cena não tinha como não reconhecer que esse anime era uma obra-prima.
As cenas do final do 10.º episódio, melhoraram absurdamente em comparação ao mangá. Pois, foi estendida, os diálogos ficaram mais profundos, o cenário foi alterado, fizeram novos enquadramentos, colocaram sombreamentos que não existiam, deram cores espetaculares e colocaram uma fantástica trilha sonora. Se a cena do episódio sete me fez reconhecer ser esse anime uma obra-prima, essa do episódio dez me fez colocar no top dez de todos os tempos. Essa cena foi tão profunda e mexeu tanto comigo que chorei do começo ao fim, me deu satisfação e um sorrisão. No mais, se eu pudesse retocar a Mona Lisa colocaria apenas mais camadas com mais detalhamento nessa linda fotografia.
A cena do final do 8.º episódio também foi melhorada no anime por conta do enquadramento e do uso de movimento de câmeras. Naturalmente o enredo tornaria essa cena empática, com um tom meio triste seguido por um de satisfação, mas a obra deixou mais dramática com as ótimas expressões faciais da personagem.
No final do 9.º episódio teve um acréscimo de um clip com uma música inteira, o qual no mangá isso era representado somente por um quadrinho. Com certeza enriquece a obra, mas por mais que eu veja valor nisso, o que realmente me impacta é a parte da pontuação de uma personagem. Logo, talvez tenha ficado melhor no mangá, porque sem esse clip no meio da cena as pontuações contrastavam melhor.
A cena do final do 6.º episódio, tem algo muito pesado, não tinha como não ser impactante, mas eu preferi bem mais no mangá por conta que deixaram a personagem histérica e também a trilha sonora não foi a melhor escolha. Uma curiosidade, é que vi um youtuber que odeia a obra comentar que esse episódio era irreal, artificial. Somente para ele quebrar a cara logo em seguida, quando veio à tona as manifestações de uma mãe criticando a obra por realizar algo muito idêntico ao caso real da sua filha.
As cenas do final do 5.º episódio, acredito que nem preciso dizer que viralizou o vídeo da música do Pieyon, muita gente compartilhando, muita gente fazendo uma versão live-action, até a intérprete japonesa da Ruby participou de uma dessas versões. De forma geral curti essa cena, mas o anime não usou o mesmo enquadramento do mangá e o clip ficou um pouco esquisito. Os pensamentos em forma de fala também atrapalharam a cena no anime.
A da escritora de mangá se emocionando no 4.º episódio, é o tipo de cena com conteúdo, com um valor crítico, mas o mais importante é como isso é transmitido. A personagem passa a emoção de assistindo uma adaptação do seu mangá e nós choramos assistindo-a chorar. Foi genial!
A cena do final do 3.º episódio foi ótima, porque deu presença de palco ao protagonista, o deixou imponente e gerou um suspense para a continuação dela que viria no início do episódio seguinte. Para mim essa foi a parte que virei a chave sobre que não seria só um prólogo e que eu precisava aumentar a nota da obra. Também vi um youtuber reclamando que a cena de encerramento do episódio três deveria ter sido um pouco mais adiante. O problema é que não geraria um suspense para uma continuação e essa cena mais adiante é a do início do episódio quatro que não ficou tão boa quanto poderia. O fato é que quiseram incrementar coisas que tiraram um pouco da grande imponência que a cena do quarto episódio tem no mangá. Nessa cena no mangá o protagonista passa muito mais a ideia que está fazendo uma atuação talentosíssima, sendo de fato uma estrela. Também não é somente uma questão de passar a ideia, é de fazer dizendo que vai fazer algo brilhante. Isso é extraordinário!
A cena do show do 11.º episódio, passou emoção, tem mérito por fazer muita coisa em 2D, e novamente o anime expandiu, colocando uma música, criando coreografias, em síntese deu excelentes complementos. Esse arco todo desde o início com a preparação para o show me deixou emocionado o tempo todo com lagrimas e risos. No entanto, eu tenho que ser chato, porque a parte visual dessa cena do show ficou aquém do que eu esperava, do que poderia ser e do que deveria ter sido, principalmente em alguns instantes que focou no público e em questão de detalhamento de cenários. Deixando claro que com isso não estou dizendo que ficou ruim, essa cena é sensacional e digna de fechamento de uma temporada, apenas merecia mais carinho. Se eu fosse o diretor fechava nessa parte ou na cena do carro, porque dava um sentimento maior de conclusão. A cena do carro é uma parte excelente que se mais explorada seria bem melhor.
Outras cenas que merecem menção estão no 1º episódio e são: a morte de um personagem no início; a dança dos bebês que viralizou nas redes; a do Amaterasu; a da Ruby brigando com o Aqua por não ter sido acordada.
O anime trata de alguns temas da indústria do entretenimento, tais como: talento não é o mais importante; obstáculos burocráticos; dificuldades financeiras; comportamento de celebridades; problemas para manter uma imagem ideal; relação de estrelas com os fãs e dos fãs com as estrelas. Em cima dessas temáticas o anime traz conhecimento desse mundo artístico e faz críticas contundentes. Isso é algo muito satisfatório, pois não deixa o sentimento que outras obras trazem de que estamos desperdiçando o nosso tempo sem receber algo agregador em troca. Além do que, são abordagens com perspectivas novas que não precisam ser complexas e profundas para alcançar um maior público.
O tema da indústria do entretenimento é recorrente porque a trama está ambientada nessa indústria, mas esse não é o tema principal do anime e nem o único dos temas secundários. Inclusive a obra trata de outros temas secundários com muita mais profundidade do que esse. Temas como: amor, família, superação, hipocrisia, amadurecimento e responsabilidade. Estão muito entrelaçados com o tema principal da obra que é sobre vingança e mentiras, de tal forma que se confundem e por vezes são a mesma coisa. Eu entendo que coisas comuns são mais facilmente percebidas, mas somente análises rasas que não compreendem a filosofia dessa obra é que só veem a superfície do iceberg.
Outro ponto que poucas pessoas se atentam é sobre a riqueza do simbolismo que essa obra usa e da fonte primária de inspiração do dualismo filosófico, mitológico, místico e lendário advindo da pré-história do Japão. O deus criador do xintoísmo Izanagi teve uma filha chamada Amaterasu, a deusa do sol que nasceu do seu olho esquerdo e da qual descende a família imperial japonesa. Já do olho direito de Izanagi nasceu o seu filho Tsukiyomi, o deus da Lua. Não é somente nas cores e nas estrelas do anime que fica claro esse simbolismo, mas também nas personalidades dos personagens.
Pensei em falar também da abertura e do encerramento de episódios, mas eu preciso mesmo? Provavelmente serão as melhores do ano, assim como todo o anime.
Mashle — No início acreditei ser um desperdício do meu tempo, uma babaquice. Não vou dizer que o anime mudou completamente, mas com o tempo foi me ganhando, as piadas começaram a funcionar e principalmente a jornada ficou instigante.
Só consigo assistir e gostar um pouquinho dos primeiros filmes de Harry Potter. Já One Punch Man é muito mais agradável de assistir, mas também não é uma obra-prima. Estava bem incrédulo que uma fusão desses dois conceitos pudesse funcionar e o início de Mashle só fortaleceu muito essa minha visão, mas com o tempo acabou sendo uma das obras mais agradáveis de assistir dessa temporada. Não pela magia, nem pela parte cômica, mas sim por ter os elementos mais clássicos de uma aventura shounen. Que são: um protagonista bobão imbatível; um grupinho de super amigos acompanhando o protagonista na jornada; anti-heróis; um romance que quase não anda; e sobre tudo boas lutas. Fiquei interessado em saber qual será o final dessa jornada, o quão fortes serão os inimigos que Mashle vai enfrentar, e até onde irão os poderes dele e dos seus colegas (poderes que naturalmente irão escalonar).
Jigokuraku — Gostaria de oferecer uma nota dez para esse anime, tem mais texto que muitos animes prestigiadíssimos, mas tem uma produção bem aquém do seu enorme potencial. Com isso também não estou dizendo que tenha uma produção e uma direção terríveis.
O tempo todo nesse anime sempre está acontecendo algo importante, tudo com ação frenética e com consequências. Isso é bom, pois cai nas graças do grande público, mas o anime teria sido frenético do mesmo jeito se o ritmo fosse um poco mais lento na quantidade de capítulos adaptados por episódio, porque no mangá é tudo rápido e cheio de lutas. Não me parece uma boa decisão acelerar o que já é agitado, até porque o mangá só tem 128 capítulos e o anime adaptou 43 capítulos e meio. Para ficar com o ritmo de três capítulos por episódio que é o mais usual e tido como o mais próximo do ideal, precisaria de mais uns 3 episódios.
O fato do anime ter muito conteúdo para adaptar em poucos episódios, resultou em cortes do material original na adaptação e em não aumentarem quase nada. Basicamente o que a direção fez foi um copiar e colar do mangá, dando inclusive os mesmos enquadramentos, sem praticamente melhorias. Em outras palavras, foi uma direção bem preguiçosa, pertencente a um estúdio super lotado, que oferece animações visualmente razoáveis e nada mais.
Essa questão da parte visual é uma decepção, pois apesar de o anime ter belas cenas, confesso que pelo trailer imaginei que seriam algo espetacular. Principalmente nas cenas de luta era onde esperava muito mais aprimoramento, mas a produção estava aquém das minhas expectativas e o que entregaram foi apenas um aceitável. O diretor não melhorou nada nas batalhas em relação ao material original em nenhum sentido possível. Nem com uma trilha sonora mais decente que passasse melhor o drama e desse o clima de impacto. Posso dizer que com esse trabalho de direção que talvez até tenham piorado as lutas, tendo em vista que não souberam dar ápices a altura do potencial que essa história oferece.
O anime censurou consideravelmente o ecchi, diminuindo bastante as cenas, mas o que realmente vai marcar essa obra serão os seios sem mamilos, os quais viraram piada. Isso é irônico e bem inesperado, porque desde o início e o tempo todo o anime é muito violento. O sangue é vermelho e jorrou solto com todo tipo de gore. Claramente não é uma obra para crianças, não vai sair em muitos canais mundo afora e não vai receber uma classificação baixa para justificar certas decisões.
Outra censura que o anime fez foi a omissão de uma piada com um cego, a cena fica estranha porque logo em seguida falam da piada que não existiu no anime. Obviamente censurar apenas algumas coisas é contraditório, deixando isso ser uma clara sinalização de "virtudes" para a agenda do politicamente correto.
Definitivamente história não era o que eu esperava de um anime shounen de batalhas, mas a obra superou em muito as minhas expectativas nisso. Justamente o que eu estava mais receoso demonstrou ser o grande trunfo. Não é uma história extremamente complexa, mas tem subtextos e um bom conteúdo com certa profundidade filosófica e religiosa. A temática principal do anime é a busca pela imortalidade, que aos poucos a obra vai dando contornos e perspectivas próprias. O anime também trata da filosofia do equilíbrio (yin e yang), muito presente na cultura oriental e já retratada diversas vezes em animes, mas nessa obra isso é explorado com profundidade, ousando na relação que tem com os sexos.
Lamentei não ter dado um dez a esse anime por conta de ser uma trama imersiva que merecia um estúdio que a tratasse melhor. O que mais torna envolvente este enredo são os personagens, com seus passados desenvolvidos, com profundidade psicológica, com propósitos, com personalidades que evoluem durante a jornada, com identidades bem distintas, com camadas que vão sendo reveladas, com dimensões que os tornam humanos, e tudo isso é uma combinação para passar muitas emoções. Um dos pontos mais explorados dos personagens são as suas motivações, das quais suas fraquezas podem ser força, isso estando ligado diretamente a filosofia dessa obra, mostrando ser um texto coeso que se autoalimenta, portanto, é uma trama maravilhosamente bem escrita. Outros pontos interessantes abordados sobre alguns personagens são suas determinações para assumir fardos, seus interiores vazios, suas empatias pelas vidas ceifadas, suas dúvidas, seus medos. No mais é uma obra cheia de surpresas, fascinação, suspense e dramas.
Kimi wa Houkago Insomnia — O anime não é tão monótono como temia, mas ainda é bem difícil de ser assistido. Mesmo o romance progredindo, fugindo de clichês, sendo muito belo, tendo personagens carismáticos, e histórias comoventes.
Assistindo apenas um ou dois episódios quaisquer dessa obra, não passam de forma alguma a sensação que é monótona, sobre tudo porque os personagens são bons e é gostoso de ver a relação entre eles. A minha primeira impressão foi positiva e de surpresa, pois eu estava esperando que fosse ser um marasmo. No entanto, o problema é assistir mais episódios, porque dá uma indisposição tremenda. É tipo uma sensação de como se a obra não tivesse mais nada a oferecer.
Está faltando algo para fazer as pessoas a quererem ver o próximo episódio e nesse sentido é maçante. Talvez isso seja pela falta de uma grande problemática para cativar, mesmo que nos momentos que eu estava de fato assistindo não tenha me incomodado com isso. Pode ser que seja porque ver um episódio dá a impressão de como se já soubéssemos de tudo, mesmo que a obra esteja fugindo de clichês. Talvez a falta de cliffhangers nos finais de episódios às vezes façam muita diferença. Não sei ao certo qual é o exato motivo do problema dessa obra, que apesar de ser ótima em alguns sentidos é cansativa em outros.
Acredito que teria funcionado bem melhor se eu tivesse visto dublado. Para esse anime especificamente também recomendo assistir vários episódios de uma vez, pois o torna menos exaustivo do que ver semanalmente. Isso é lastimável, pois é um anime tão belo em tantos sentidos.
Melhor Personagem Masculino da Temporada Spring 2023:
Aquamarine
Melhor Personagem Feminina da Temporada Spring 2023:
Kana Arima
Melhor Design de Personagem da Temporada Spring 2023:
Isekai de Cheat Skill wo Te ni Shita Ore wa, Genjitsu Sekai wo mo Musou Suru: Level Up wa Jinsei wo Kaeta
A gravidez da Ai é igual a de qualquer adolescente?
Primeiramente é falso dizer que todo mundo isenta o fato da Ai engravidar com 16 anos, nem mesmo o próprio Guto isentou isso, tendo em vista que no vídeo ele afirma esse ser um grande problema. Ser um problema também não é necessariamente condenar a garota dizendo está errada, dizer isso como o Ig0y fez é um juízo de valor, altamente subjetivo e baseado somente na idade é abominavelmente preconceituoso. No entanto, concordo que as sociedades mencionadas no vídeo não veem com bons olhos a gravidez na adolescência. Por terem uma mentalidade dominante progressista no sentido que a mulher antes de formar uma família deve ser independente com uma carreira profissional e um ensino superior. Não seguir essa cartilha gera certas indignações ideologizadas de lacradores que tentam construir uma moral pós-moderna. A despeito disso, as mulheres devem ter todo o direito de escolherem o que elas quiserem para suas vidas, devem ter o direito de buscar a felicidade sem imposições.
Gravidez na adolescência é algo escandaloso quando acontece com pessoas comuns? Garanto que não é algo anormal para estampar os jornais e sejamos honestos que na nossa sociedade a população somente se importa com a conta. No Brasil cerca de 14% de todos os partos são de mães adolescentes. Esse indicador ano após ano vem sofrendo uma redução, devido ao envelhecimento da nação, a existirem anticoncepcionais, a abortos serem cada vez mais populares e a maior instrução da população. Se por um lado os partos estão reduzindo em idades mais novas, por outro lado, cada vez mais cedo os jovens iniciam as suas atividades sexuais. Quase 50% dos jovens tiveram sua primeira relação sexual na adolescência, 30% antes dos 15 anos e pelo menos 1/3 sem uso de proteção. Pessoas comuns tendo recursos não sofrem coerção, diferentemente de ídolos musicais jovens da cultura japonesa (idols). Para as idols até mesmo uma troca de carinhos mais íntimos é um problema, namorar enquanto seguir essa carreira é terminantemente proibido, ter relações sexuais e engravidar é um gigantesco escândalo.
De fato, a carreira de um idol é curta e não passa dos 30 anos, logo fazer a protagonista ter um filho aos 16 anos parece ser o mais conveniente. Qual o problema com isso narrativamente falando? Existe algum demérito nisso que justifique essa crítica do vídeo do Ig0y? É um encaixe narrativo coerente com a proposta. Além disso, discordo categoricamente com a afirmação feita no vídeo do Ig0y que a obra não está fazendo uma crítica a forma de vida de mentiras que a personagem está inserida, isso é comprovado por ela ter uma gravidez escondida. Por fim, concordo que o anime parece não se importar em querer fazer uma crítica negativa comum a gravidez na adolescência, até porque não é uma personagem comum e não tem problemas comuns.
O anime obrigatoriamente teria que retratar de forma negativa a gravidez na adolescência? Por que o ig0y é tão etnocêntrico e quer impor críticas que colaborem com seus valores em tudo? O Japão detém uma taxa de 0,4% de adolescentes entre’ as mulheres que dão à luz, isso é 35 vezes menor do que a brasileira, que por sua vez é 4 vezes menor que a subsaariana. Essa taxa japonesa é a menor de gravidez entre adolescentes de todo o mundo. Também é preciso dizer que o problema de baixa natalidade que o Japão vive atualmente é a maior preocupação de todos os japoneses, não são os terremotos, não é a economia, não é a China. Logo, mostrar desaprovação por algo que a nação está buscando desesperadamente não faz sentido.
Não jogar uma pessoa na fogueira é ser favorável aquilo que ela fez? Onde foi que o Guto disse que não tinha nenhum valor na menina ser criticada por ter 16 anos? Pelo menos não vi isso no vídeo do Guto. Onde o Ig0y viu todo mundo dizendo que não tinha nenhum valor na menina ser criticada por ter 16 anos? Certamente em alguns bolsões conservadores da sociedade ainda exista alguma resistência a não aprovar comportamentos sexuais fora do casamento, implicando também em certos tipos de gravidez na adolescência. Não é todo mundo como foi dito, todavia vou dar algum crédito ao Ig0y, porque de forma geral, a mentalidade da sociedade ocidental é permissiva a prática de relações sexuais libertinas com algumas poucas exceções. O problema é que o Ig0y parte de um pressuposto bastante superado que as pessoas condenam, quando elas de fato só não querem é ter despesas. Logo, não tem porque “todo mundo” sair fazendo críticas sobre essa garota, quando não a repudiam. Para reforçar, no Brasil, 26% das adolescentes se casaram ou foram morar com seus parceiros antes de completar 18 anos. Não sei onde o Ig0y vive, talvez seja onde a população é muito conservadora nesses assuntos, mas pessoalmente acredito que não deva ser nesse planeta.
Teve um momento do vídeo que o Ig0y ainda falando sobre gravidez da Ai perdeu a paciência e começou a dizer impropérios, o qual é o argumento de quem não tem argumento. Isso porque alguém falou da gravidez de adolescentes na África. Em resposta o Ig0y inquiriu o nome de cinco países desse continente, entendi que não foi negando propriamente, mas foi um argumento de autoridade e de ataque ao argumentador. Sei decorado o nome de quase todos os países da África, mas saber disso não significa absolutamente nada para o argumento que adolescentes engravidam. Só para constar com dados da ONU, todos os países da África Subsaariana têm essa situação. Para terem uma noção, de todos os nascidos de mães entre 15 e 19 anos de todo o mundo, 48% deles nasceram somente na África Subsaariana. Estudo do Fundo de População das Nações Unidas, Unfpa, revela que em países da África Subsaariana, mais de 60% das gestações ocorrem em meninas com menos de 17 anos.
Na análise feita no vídeo do Ig0y, foi contestado o fato da informação de gravidez da Ai não ter vazado. É comum os escândalos vazarem? Sim, mas quantos tantos passam décadas até serem descobertos e quantos tantos nunca são revelados. É impossível calcular se tem mais escândalos que vazam dos que os que nunca vazam. Só tem como especular que são muitos os que nunca chegam a público, com base que são muitos os que demoram muito tempo a vazarem. Existem inúmeros casos de celebridades internacionais super famosas que conseguiram esconder a gravidez e não custa lembrar que a protagonista é somente uma subcelebridade japonesa. Não existe nenhuma incoerência nisso, até mesmo dizer que é conveniência é complicado quando não se tem como calcular probabilidades. Ademais, o anime tratou dessa questão dizendo que a Ai foi para uma cidade pequena e que usou um pseudoanônimo. Tem também uma cena no anime onde uma idol é notícia casando e estando grávida, em outras palavras, casou para não escandalizar.
Algumas ponderações sobre críticas a gravidez da Ai.
Uma crítica moral é bem complicada, pois a sociedade japonesa tem seus próprios valores, que não podem ser medidos com régua ocidental, a fim de que possam exigir que o anime faça uma condenação por ser uma gravidez fora do casamento. Além do que por Ai estar no mundo artístico, é uma personagem desapegada a valores morais, mesmo os pertencentes a cultura japonesa. Vale também destacar que a crítica moral da idade seria mais do conservadorismo das tradições. Já para questões religiosas seria apenas em virtude de não ser casada.
Críticas familiares tem seu próprio aspecto, mas estão muito ligadas a críticas morais e psicológicas. Dito isso, as definições de família e de estruturação dela estão mudando continuamente. Assim como também é muito complicado dizer se alguém com 16 anos não tem uma estrutura psicológica para ter uma família. Na minha opinião, essa mentalidade pós-moderna de protecionismo exacerbado sobre os jovens, sempre os tratando como incapazes e inaptos, defendida pelo Ig0y, causam muitos danos a sociedade, gerando coisas como os hikikomoris. Outro ponto, é que a Ai não tinha família para surgirem conflitos durante a gravidez, exceto se ela tivesse um relacionamento sério com a pessoa que a engravidou. Ademais, é interessante notar que pelo menos nesse início da trama a relação amorosa da Ai não foi tratada como um abandono. Talvez isso seja um reflexo da sociedade atual japonesa, ou talvez queira passar alguma mensagem, mas o fato é que o Ig0y não se atentou para essa questão no vídeo.
Sobram as críticas a saúde física e o anime as fez. Foi dito que no caso da Ai poderia ter que ser uma cesárea, o anime também criticou a demora dela em ter a primeira consulta e ao tamanho da personagem para ter os bebês. Posto isso, senti que as preocupações foram mais por estar grávida de gêmeos do que por ter 16 anos. Críticas maiores só caberiam bem se estivessem falando de uma criança ou um pré-adolescente, mas 16 anos é quase um adulto e em alguns países 15 anos já é um adulto. Gostaria muito que o Ig0y entendesse que gravidez não é uma doença, que mulheres são biologicamente feitas para ficarem grávidas e que 16 anos não é uma idade de risco.
O tema é comum, logo é ruim?
Concordo que no gênero os temas desse anime são comuns e diria mais que são velhos. Entretanto, isso não significa que os temas nesse anime não tenham seus próprios méritos, que não consigam surpreender, que não consigam cativar e que principalmente não consigam emocionar. O anime trata de alguns temas da indústria do entretenimento de forma secundária, tais como: talento não é o mais importante, dificuldades burocráticas, dificuldades financeiras, comportamento de celebridades, dificuldades para manter uma imagem ideal, relação de estrelas com os fãs e dos fãs com as estrelas. São coisas comuns, portanto, são as mais facilmente percebidas, mas não são o tema principal e mesmo sendo abordagens com perspectivas novas e enriquecedoras, não precisam ser complexas e profundas. O que frustra bastante é ver críticas aos temas desse anime sendo rasas, pelo simples fato de não se atentarem sobre o que realmente a trama quis falar. Temas como: amor, família, superação, hipocrisia, amadurecimento e responsabilidades. São tratados com muita mais profundidade do que o da indústria do entretenimento e ignorados pelos críticos. Para finalizar, o tema da obra é sobre vingança.
Gorou o virtuoso que morreu e reencarnou.
O Guto está correto e o Ig0y está errado por querer desumanizar o Gorou. Entendam, médicos são humanos como qualquer outra pessoa, que no exercício da sua profissão é preterido que não expressem juízo de valores, mas isso não quer dizer que eles não possam e não julguem em fóruns íntimos. Acompanhamos o Gorou não somente enquanto está realizando as suas atividades de médico com sua paciente, mas acompanhamos até no íntimo dos seus pensamentos. Isso é importante para evidenciar o caráter virtuoso do Gorou, em não ter juízos condenatórios, em não ser preconceituoso, em não deixar de ser fã por conta de uma gravidez e em querer ajudar a trazer a vida. Ao contrário do perseguidor, que também era um grande fã, mas não tinha virtudes, era tóxico, não respeitava a liberdade da Ai e queria trazer a morte. Também é preciso ressaltar a existência da Ai paciente e da Ai idol, o Gorou poderia não ter a mesma opinião de fã alinhada com as de médico. Para concluir, é impossível não comparar como o Ig0y, que pediu que Ai fosse condenada, que disse claramente que a Ai estava errada, que queria jogar a menina no inferno por ficar grávida. Tirem suas próprias conclusões sobre com quem o Ig0y se parece.
A morte do Gorou foi ruim como diz o Ig0y? Tenho duras críticas do encontro do Gorou com Ryousuke, e para quem tinha lido a sinopse do anime já sabia que em algum momento o Gorou iria morrer. Independente disso, a cena da morte em se, do momento que ele é empurrado em diante, consegue causar um certo choque, cria uma expectativa até o último instante de que o Gorou pudesse escapar e gera um certo mistério pelo corpo não ter sido encontrado. Tem como dizer que uma cena com esses elementos é ruim? Infelizmente, confesso que não me emocionou tanto, mas a culpa foi minha porque tinha pego spoilers e bem maiores do que os que estão na sinopse. Mesmo assim, consigo reconhecer o potencial e imaginar como deve ter sido impactante para quem foi ver sem saber de nada.
O Ig0y afirma que a reencarnação do Gorou foi uma propaganda pró-aborto, porque fica implícito que o corpo de Aqua não tinha alma antes do Goru morrer. Nessa questão de o feto ter alma/espirito, vou tomar como exemplo o que pensa a cultura judaica cristã. Para quem desconhece, isso é uma questão milenar no cristianismo e no judaísmo, é contencioso sobre qual é o momento que o corpo passa a ter alma. Independente disso, são religiões antiabortistas por entenderem que a vida se inicia no momento que a biologia determina, que é na concepção. Logo, é irrelevante a questão de qual é o instante específico que o corpo adquiri uma alma, porque não existe vida humana mais valiosa do que a outra. A vida é um dos pontos mais fundamentais dessas crenças e o assassinato para essas religiões é pecado. Entendo que certas concepções teológicas dão mais margens para que pessoas possam tentar defender o indefensável, mas daí fazer uma ilação que por pessoas exporem certas ideias necessariamente defendam outras é de uma plena ignorância. No mais, não foi afirmado se no universo desse anime todas as almas reencarnam no mesmo momento.
Fazendo alguns esclarecimentos do que pensa o cristianismo. Primeiramente há duas opiniões com bases escrituristica sobre como a alma humana é criada, são o traducianismo e o criacionismo que atualmente é a corrente majoritária. Um adendo esse criacionismo não é o que faz contraponto a teoria da evolução. Voltando, a corrente do traducianismo acredita que as almas são criadas com os corpos físicos e a corrente do criacionismo que as almas são infundidas. Em qual momento elas são infundidas, aí tem tese para tudo, tem até de estágios da alma. A palavra grega peûma (espirito), significa: sopro, vento, ar, sopro divino, portanto existem aqueles que advogam que somente o recém-nascido após respirar é que tem espírito. A briga ainda é bem mais complicada, porque tem também a teologia da dicotomia (alma e espírito são a mesma coisa) e da tricotomia (alma e espirito são coisas diferentes).
O único instante que o anime fala sobre aborto é quando é sugerido a Ai. Isso se dar no momento que antecede a cena do telhado, na qual é onde ela responde à indagação dizendo que não tem família, que sempre quis ter uma e que sua família será feliz e divertida. O anime super pró família, que incentiva a não fazer aborto e trabalha com o grupo que é mais vulnerável a cometer esse ato, acusado por Ig0y de ser abortista. Ridícula essa declaração do Ig0y, é tão ridícula que prefiro acreditar que foi uma piada de extremo mal gosto.
Tem um momento do vídeo que o Ig0y fica desmerecendo o parto da Ai, perguntando quem fez, quem assinou. Essas indagações não têm lógica alguma para tentar refutar o argumento que o Guto vinha construindo. Também demonstram uma falta de atenção, posto que logo em seguida o Ig0y afirma que a Ai não ligava para quem iria fazer o parto, quando no anime a Ai disse no seu último diálogo com o Gorou que não queria outro médico. Ademais, faltou a compreensão do propósito e do foco que não é na Ai, mas no protagonista. Foi o Gorou que prometeu a Ai que faria aquele parto para que as crianças nascessem saudáveis e não o contrário. Além disso, ele refletiu ter encontrado o seu propósito em ter se tornado médico naquele parto, para garantir que fosse seguro. Não fazer isso é deixar um propósito inacabado o que justifica a sua reencarnação.
Em relação a suposta incoerência por conta do sumiço do Gorou. Primeiro, alguém encontrou o Gorou, basta observar que na última cena que ele aparece tem alguém se aproximando dele (14:55 a 14:57, lado direito da tela). Vemos a pessoa por detrás e no escuro, mas aparenta estar com um capuz parecido com o do assassino, logo provavelmente foi o próprio assassino que foi esconder o corpo. Segundo, é falso dizer que ninguém procurou e que ninguém notou o sumiço do médico, posto que teve um funeral simbólico. Terceiro, o Japão tem cerca de 80% do país coberto por florestas densas e relevos montanhosos. Facilmente alguém se perde e jamais é encontrado em uma pequena área de floresta, imagine em uma grande floresta. Quarto, segundo o New York Post, desde meados da década de 1990, cerca de 100 mil pessoas por ano desapareceram no Japão, simplesmente “evaporam” sem deixar rastro nenhum.
Ai aquela baranga.
O Ig0y ficou revoltadíssimo, porque a “mocreia” da Ai não virou uma baleia, cheia de celulites, com estrias e cicatrizes depois de um parto. Como pode ela não ter bulimia?! Seria o autor um imbecil por não mostrar esse clichê da lacração?! Afinal quem se importa dela ser bem jovem e ter optado por um parto normal (11:47 do anime) para não ficar com cicatrizes. Pessoalmente tenho várias lindas amigas que depois que tiveram um filho, voltaram rapidamente e sem esforço a ter o mesmo corpo de antes, algumas delas ficaram até mais bonitas. Também é preciso observar que nessa trama teve um salto de tempo entre o parto e a volta da Ai para os palcos. Como sei disso? O médico já tinha sido dado como morto, os bebês não tinham a aparência de recém nascidos, as crianças andavam (nove meses é o mínimo para uma criança começar a andar) e um personagem do estúdio disse que há meses não falavam mais do grupo da Ai. Incoerência não tem, e realmente era preciso mostrar a Ai fazendo regime, academia e ensaiando nesse tempo? O arco de preparação realmente agrega muita coisa a tramas? Quem estaria morrendo de vontade de ver enchimentos? No mais, assim que Ai volta aos palcos, a primeira pergunta que o apresentador faz é se ela está comendo direito e a resposta dela é que está comendo muito. A análise do Ig0y não faz sentido algum, colocações sobre cirurgia e questionamentos de recuperação pós-parto são infundadas, por ele simplesmente não prestar atenção no tempo decorrido e em ter sido um parto normal. Por último, o Ig0y cobra que a obra faça aquela crítica genérica, ideológica, saturada, receita de fracasso, bandeira de feministas invejosas que não raspam os cabelos do sovaco. Aceitem, o que é belo é belo, o que é feio é feio, e tudo que presta tem um preço.
Esqueceram de mim.
O Ig0y reclama que o Aqua não reconhece que a Ruby era uma paciente sua de outra vida que reencarnou. Primeiro, a Ruby não quer falar sobre vidas passadas, porque ela tem medo que se o Aqua souber que ela era apenas uma garotinha vá ser inferiorizada (55:56 a 56:29 do anime). Segundo, o Aqua acha deprimente falar sobre a outra vida. Existe uma grande plausibilidade em não saber quem era aquela pessoa em outra vida se não falam sobre isso. Terceiro, é falsa a afirmação do Ig0r que a Ruby não tem nenhum traço para que o Aqua presumisse quem ela era no passado, posto que o comportamento dela pela idol o faz associar a Sarina (32:13 do anime).
Construção de personagens.
O Ig0y cobra características sui generis da Ruby. O que podemos exigir nesse sentido de uma criança de 12 anos? Apesar disso o anime entrega algumas características tais como: o fato dela ter tido câncer; de ter traumas com quedas; de ter uma relação de paquera com um médico; de ser fã de uma idol. Na minha opinião é uma construção suficiente, principalmente se considerarmos que isso é somente no primeiro episódio. Ainda sobre a Ruby, o Ig0y reclama também de que o câncer tem outras facetas que poderiam ser exploradas, e isso é verdade, mas só se deve falar aquilo que é pertinente a trama, caso contrário é enchimento desnecessário.
O Ig0y reclama que essa obra só tem dois ou três personagens. Isso demonstra que o Ig0y quer que todos os personagens apresentados sejam trabalhados da mesma forma. Somente uma pessoa que desconhece que existem vários tipos de personagens exigiria algo assim. Os demais personagens não precisam ter uma construção igual à dos principais, e se tem uma coisa que esse anime oferece aos principais é um arco completo de personagem. Por fim, eu queria saber onde o Ig0y encontrou essa regra que a qualidade de uma obra é definida pela quantidade de personagens.
O Guto é um merda desonesto?
Se alguém gosta demais de algo, ou queira vender algo, não vai ficar procurando e exaltando possíveis problemas. No caso de quem gostou demais, está implícito que considera irrelevantes possíveis problemas. Já no caso de quem queira vender, não cabe a esse ficar apontando possíveis falhas do seu produto, pois fazer isso é burrice. Não importa qual seja o caso, isso não torna o Guto um merda e um ser desonesto. No mais, a ônus da prova é de quem afirma, cabe a quem diz que é ruim apontar falhas e a quem diz que é bom apontar qualidades, não o contrário.
O Ig0y afirmou que Aqua falou “eu agradeço por ter sido assassinado”. Quando o que o Aqua falou foi: “fico feliz por poder de cuidar da Ai tão de perto, tanto que sou grato ao cara que me matou”. Por favor, interpretação de texto e entendimento de figura de linguagem, o foco não é em ser grato a quem o matou, mas em ficar feliz porque reencarnou naquela vida almejada. Logo em seguida o Aqua continua: “Mas a verdade é que queria ajudá-la a ter os filhos dela”. Até concordo que essa expressão do Aqua de ser grato pode não ter sido a mais adequada, por ser muito forte para expressar a sua felicidade, mas o que o Ig0y faz é usar um texto descontextualizado como pretexto para dizer impropérios. Não existem os problemas como o Ig0y coloca nessa fala, mas também é bom ressaltar que não há uma versão brasileira, o que temos é uma tradução feita por fãs, ou seja, pode ser que no futuro quando chegar a versão oficial as palavras sejam mais adequadas. Para jogar uma última pá de cal nesse caixão, no mangá ele não disse que é grato, ele disse que é "quase grato".
Primeiramente corrigindo o Ig0y, não foi o protagonista que falou que era “enviado de Amaterasu”, foi a Ruby e o que ela disse é que era a encarnação do Amaterasu. Eu queria entender qual o problema que o Ig0y ver narrativamente na Ruby dizer isso e pior chamando o protagonista de psicopata por isso. Já quanto a Miyako ser uma personagem de “bom coração”, ser ou não ser é uma questão muito subjetiva e desnecessária para o prólogo. Outra, uma pessoa que comete um deslize em um momento de fragilidade já é uma pessoa terrível? Mais uma, por que essa personagem tem que ser boa? Já para o resto da obra, tem um salto de aproximadamente uma década, onde a Miyako ficou cuidando da Ruby e se virando sozinha com a empresa. Isso muda as pessoas, isso as amadurece e é uma justificativa para as mudanças na personagem, coisa que o Ig0y diz que o anime não tem.
Respondendo às indagações do vídeo do Ig0y sobre a segurança da residência da Ai.
1. Por que Aqua não se passou por Amaterasu, manipulando a Miyako para avisar sobre o perseguidor e reforçar a segurança? Não era a casa da Miyako, o perseguidor estava sumido há vários anos e faltavam motivos para acreditar que a Ai estivesse em um perigo eminente. No mais, o perseguidor não necessariamente era uma ameaça que iria matar a Ai, tanto que é reconhecido e quando ele feriu fatalmente o Gorou foi em um contexto de fuga o empurrando de um barranco. Sem contar que mesmo com uma mente de adulto o Aqua tinha muitas limitações por ser uma criança.
2. Se fosse alguém na campainha pedindo açúcar, não descobriria o segredo da Aqua de ser mãe? Não, as crianças estavam no quarto. Também não seria uma incoerência porque o anime já tinha estabelecido que a personagem era descuidada, como foi no caso da entrevista.
3. Não tem olho magico e não tem câmera? Era uma residência nova (1:01:51 e 1:13:30 do anime). Além do que a negligência com segurança da Ai é justificada, pelo passado da personagem, por ser meio bobona, por ser bastante jovem e por ela admitir que cometeu uma falha, ou acaso ninguém pode errar.
4. Não tem uma secretária? A agência não tinha recursos nem para uma babá, quanto mais para uma secretária.
5. A Ai era muito famosa? Estava com uma carreira em ascensão, mas ainda era uma subcelebridade menor do que muitos youtubers brasileiros e não era uma Shakira da vida.
6. Tinha rios de dinheiro? Tinha recursos, mas o anime inteiro frisa que a Ai não ganhava a contente e que a agência era pequena.
7. Colocar portão de ferro? O Japão é um lugar muito seguro, portões de ferro não são comuns e de toda forma ela teria que abrir a porta para receber as flores.
8. Colocar um interfone? Que diferença faria falar por interfone, ou falar pelo outro lado da porta, se abriria a porta de todo jeito para receber as flores.
9. Portaria do prédio? Primeiro, tem alguns cortes que fazem pensar que seja um apartamento, mas também tem outros que levam a crer ser uma casa, o fato é que não sabemos se era um apartamento, uma casa, um sobrado, ou qualquer outra coisa. Segundo, é muito comum no Japão não ter portaria em prédios. Terceiro, provavelmente era uma casa, porque a maioria dos edifícios do Japão tem paredes de drywall e nos mais antigos são de madeira, isso significa que a maioria dos prédios não permite crianças. Portanto, quem tem família no Japão mora em casas, ainda mais uma idol que iria fazer barulho e precisaria de espaço.
O perseguidor.
Quando o Ig0y fala desse personagem indaga se isso é um dez, em seguida a outra pessoa que está com ele no vídeo reclama do perseguidor aparecer novamente com um capuz e o Ig0y ratifica a crítica. Se pegarmos os animes favoritos do Ig0y, os quais ele deu nota dez, o que não falta são personagens usando a mesma roupa em todas as ocasiões, alguns deles por anos. Além de ser uma crítica contraditória, não faz sentido reclamar de um capuz em cenas que pela situação que o personagem se encontrava eram contextualizadas.
O Ig0y reclama do Guto não ter mostrado a cena do perseguidor se arrependendo, como se o Guto tivesse a obrigação de mostrar somente porque o Ig0y quer. Esforcei-me bastante tentando ver algum problema nessa cena e não consegui. Até entenderia alguém que fizesse uma ou outra sugestão de como essa cena pudesse ficar melhor, mas problema mesmo tem zero.
O Aqua poderia ter salvo a Ai?
Depois que Aqua entra na cena, o tempo de 1 minuto e 54 segundos foi o que Ai precisou para afastar o seu agressor dos seus filhos. Enquanto isso o Aqua já tinha corrido para pegar o telefone e estava chamando a ambulância, exatamente a primeira coisa recomendada por médicos a se fazer em situações assim. Depois que o perseguidor vai embora passam mais 2 minutos e 49 segundos para a Ai morrer. Menos de três minutos foi o tempo que o Aqua teve, tendo um corpo de uma criança de quatro anos de idade, não tendo nenhum material médico disponível e tendo que se recuperar de um choque tremendo. Ainda assim ele conseguiu fazer um diagnóstico e uma recomendação médica de não se esforçar falando. Contudo, o Ig0y queria que o Aqua conseguisse fazer mais coisas. Detalhe, o garoto de quatro anos estava sendo contido por um abraço de sua mãe. Abraço esse contra o seu abdome onde o Aqua pressionava o seu ferimento.
Nessa cena no mangá (capítulo 9, página 10) o Aqua estava pressionando contra o ferimento com um vestido, ou com uma blusa, ou usando um saco plástico nas suas mãos para não infeccionar. O ferimento dela era gravíssimo, ela já tinha perdido muito sangue e um garotinho não teria a força necessária para estancar a hemorragia. Por ser um médico o Aqua já sabia ser irreversível o quadro e foi por isso que não quis deixar a Ruby ver a mãe morrer. Médicos não são Deus, não é porque tem um médico em um lugar que vá acontecer um milagre.
Quanto tempo demora para morrer depois de levar uma facada na barriga? Se o corte for profundo, menos de dez minutos, muito mais rápido se for na aorta abdominal. Cinco minutos já era o suficiente, mas o tempo preciso que Ai demorou para morrer não sabemos, posto que existe um salto temporal entre o encontro de Ai com o Ryousuke e a entrada de Aqua na cena. Como sei disso? Ela estava no final do corredor quando o Aqua a encontra, não mais na porta e já tinha muito sangue por todos os lugares. Durante esse hiato podem ter passado muitos minutos.
O conceito de reencarnação no anime.
O Ig0y reclama do porquê o Aqua não foi atrás da Ai reencarnada. No entanto, o Aqua não sabe se todos os seres humanos reencarnam, não sabe se todos reencarnam nesse planeta, não sabe se todos reencarnam como seres humanos, não sabe se todos reencarnam imediatamente. Mesmo que tudo isso fosse favorável para o Aqua, ainda teria um planeta inteiro para procurar com bilhões de pessoas nele. Tem muitas coisas que o anime não estabelece sobre reencarnação, mas lembrar da vida anterior é estabelecido como uma estranheza, ou seja, uma exceção. Procurar uma alma reencarnada que possa não lembrar de nada, não me parece algo inteligente. Se fosse assim todo mundo que acredita em reencarnação estaria procurando seus entes falecidos. Como o Ig0y se declarando ser um budista não sabe disso?
Se a Ai reencarnasse com as memórias de outra vida, ela saberia quem é o Aqua e a Ruby. Logo, faria sentido ela procurar eles quando pudesse. Se ela não veio procurar é porque não reencarnou com as memórias. Se ela não reencarnou, por que o Aqua criança iria atrás dela? Nota zero para o Ig0y, um super zero.
Também criticam o Aqua porque supostamente não teria motivos para reencarnar por ser um médico. Esse é um argumento bem preconceituoso, não é por ser um médico que uma pessoa está automaticamente no nirvana, sem problemas e totalmente realizada. Até entendo a ótica que médicos ganham bem, que é uma profissão almejada por muita gente. No entanto, ter dinheiro e prestígio, não é garantia nenhuma de felicidade e realização. O anime deixa claro que o Gorou, só via sentido e só se sentia realizado em ser médico por ter a chance de cuidar da pessoa que idolatrava.
Ataque ao argumentador.
O IgOy acusa o Guto de ser desonesto e mercenário por defender esse anime. Que isso é falácia é indiscutível, mas me pergunto do que o Ig0y vai me acusar, porque não ganho absolutamente nada defendendo essa obra e nem fã do Guto sou. No mais qualquer um poderia inverter esse argumento contra o próprio Ig0y, dizendo que só ataca esse anime para ganhar visualizações e dinheiro.
Quem é meu pai?
O Ig0y acusa o anime de não mostrar o Aqua fazendo nada na tentativa de procurar o pai efetivamente. No episódio três tem um flashback com todo o esforço para conseguir os contatos que estavam no celular da mãe. Mostrando uma dificuldade para conseguir uma bateria de um modelo antigo e um tremendo esforço para desbloquear a senha, no qual foram quatro incessantes anos tentando encontrar. Ademais o Aqua trabalhou em ter meios que pudesse o aproximar de seus possíveis pais para tentar coletar o DNA deles. Por último, por mais que o Aqua tenha memórias de outra vida uma criança tem muitas limitações.
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Em defesa do nobre Guto.
https://youtu.be/Yhi5cjydnJw